sexta-feira, dezembro 05, 2008

Máma Africa!

Pois é, cá estou eu pelas Áfricas!!!

Isto é o que é! Não é fácil abranger com a escrita tudo o que o olhar absorve, só respirando!! É puro, rude, natural, belo, chocante… mas vou tentar.

As crianças sorridentes! Com trancinhas coloridas! Brincam com NADA! Ás vezes parece que não sabem brincar, não se veem brinquedos, e também não os constroem… chega-lhes a terra o horizonte, o mar, a natureza!

As mamãs sempre com os seus filhos ás costas envoltos nos panos coloridos, como se o cordão umbilical ainda não tivesse sido cortado, transportando-os todo o dia, fazendo todas as tarefas onde vão aprendendo os rituais do dia-a-dia, buscar água, vender na feira, lavar roupa, pescar,…

Os homens, vendem nas ruas, pescam, fazem negócio, bebem cerveja, fazem esquemas…

A Cidade Grande. É grande! tem lixo! tem pó! tem gente! Muita, gente! Tem trânsito, tanto, tanto, que não há espaço para mais. Nunca ninguém chega a perceber porque se parou 2 horas no mesmo lugar!! Acidente? Avaria? Desastre? Talvez seja alguém que se esqueceu que estava a conduzir e simplesmente ficou a olhar para o infinito, e com ele coloca tudo á sua volta a pensar no nada, no caos urbano, e a ficar eternidades dentro do carro envolto de outros mil carros. E há pessoas sempre a passar, coloridas com seus panos, com suas tranças, seus alguidares cheios de mercadoria para ir vender ao Roque Santeiro (mercado). Tudo isto temperado com sonoridades da rádio local. O locutor dizia assim: “Próxima quinta feira vamos celebrar o dia nacional de lavagem das mãos com água e sabão!!!!” E a música que acompanha sonorizava:
“Lava a Mão,
Lava a mão,
Com água e sabão!!!
Depois de brincar,
depois de merendar,
lava, lava,
lava, lava,
com água e sabão….”
Logo a seguir a música angolana persegue o passar das horas.
Vende-se tudo na rua, basta ir de carro no trânsito que sempre se encontra o que se procura!!

Há prédios grandes!!! Tão grandes!! Uns velhos, outros novos, muito novos, misturados com casas pequeninas ao lado, antigas, antigas, algumas quase a cair, mas habitadas! Há sempre alguém lá dentro a viver.
E há um lado da cidade que é como se não pertencente a este lugar!!!! Ruas grandes, alcatroadas, com passeios, iluminação, shopping, edifícios, construções, empresas, vivendas!!! Mas… parece que não vive lá ninguém! Aí não há trânsito, nem pessoas com alguidares e crianças ás costas!! Nem Hyaces (táxis). Hum…. Estranho!!!! Não fica bem com o resto da cidade!! Onde está o colorido? África?! Até há um zona residencial com casas organizadas ao estilo das cidades subúrbio dos E.U.A!!!! com direito a ter uma casa igual a todos os vizinhos do bairro, mais o jardim com relva à frente e entrada para a garagem!!!...e ao lado, o Musseque!

Os Musseques. São o que rodeiam a Cidade Grande (Luanda), são o percurso até ela. São os bairros periféricos….de lata, de tijolo cinzento, de quatro paredes e um pano na porta, chão de terra batida, galinhas á solta, crianças seminuas, semi-empoeiradas, e sempre quase sempre a sorrir… Não há muito, não há quase nada, senão… a alma.
Quando por lá passo todas as manhas vejo uma senhora com a sua máquina de costura sob o chão de terra batida a dar ao pedal como quem tem por missão costurar com retalhos o céu de Angola.
O dia começa com o nascer do sol num burburinho alucinante de multidões de pessoas que caminham á beira da estrada transportando alguidares, crianças, pastas… e termina com a escuridão iluminada de velas posadas em garrafas de cerveja vazias onde só se reconhecem os olhos iluminados e vultos a movimentarem-se.


Domingo. Dia de vestir roupa nova e lavada, ir á missa com a camisa branca, reunir com o grupo de mães e entoar os cânticos locais, ir á praia com a família, fazer picnic, beber cerveja, muita, até ao fim do dia para esquecer que daí a umas horas começa uma nova semana uma nova rotina folclórica. Na praia dança-se, come-se peixe assado bebe-se cuca, conhecem-se novas damas…
E logo vem o por do sol!! Grande, laranja, lento no seu recuar embriagado! Amanhã de novo aparecerá, a quem abrir os olhos no novo dia, a quem segue o seu caminho!






Ás vezes sinto que já cá tinha estado antes!
Só me falta algo... a máquina de costura!