quarta-feira, abril 29, 2015

Os colares da mamã

Num destes colos matinais antes de sairmos de casa para o trabalho, o índio JT com grande entusiamos agarra as bolas do meu colar e pergunta, mamã porque é que o teu colar é assim?, assim como? pergunto eu.
Com  planetas!
Automaticamente o grande Pachá papá responde, enquanto calça os sapatos, é porque a mamã é o universo e os planetas giram á volta dela!
Posto isto fez-se silêncio, e sorrimos! não sei quem percebeu o quê? mas seguimos porta fora e senti-me por segundos o centro do universo da minha tribo!


sexta-feira, abril 24, 2015

E se fossemos dar uma voltinha - Destino, Kosi Bay Nature Reserve - South Africa

Um dos locais que visitamos e pernoitamos alguns dias, nas férias da Páscoa, fica na costa norte de Africa do Sul a uns escaços 30Km com a fronteira com Moçambique é a chamada Wetland Park Isimangaliso no norte de KwaZulu Natal, Kosi Forest.
Trata-se de uma região costeira, património mundial chamada Isimangaliso, o seu ecossistema é único e muito diverso em termos de avifauna, floresta costeiras raras e outras criaturas, por exemplo um tipo de tartaruga marinha que vem desovar naquela zona dunar em Novembro, claro que não tivemos essa sorte pois Novembro ainda vem longe.
O que nos suscitou mais interesse neste local foi o seu isolamento de tudo e a sua envolvência ser muito eco friendly.  
A começar pelo caminho para lá chegar que apenas permite o acesso a todo terreno, o que nos permitiu ir num carro daqueles abertos com várias cadeiras em anfiteatro de safari, para delícia dos índios que nunca tinham andado, porque não é permitido para crianças menores de 5 anos nas reservas. À chegada pediram-nos para assinar um documento em que nos responsabilizávamos e tínhamos conhecimento por estar numa zona de animais selvagens e dos possíveis perigos que poderíamos estar sujeitos, também nos foi informado que não existia energia eléctrica, apenas a do gerador que este deixa de funcionar das 22h às 7h, porreiro! nada de novo para nós! E lá fomos nós atrás do recepcionista, por caminhos de areia iluminado por archotes até ao nosso pequeno chalé, feito de estrutura de madeira, paredes de rede e oleados, que descem durante a noite, telhado de palha, camas com rede mosquiteira, e uma banheira ao ar livre que fez a delícia de todos ao fim da tarde antes do jantar.
 


Durante a noite podíamos ouvir tudo, tudo, todos os dias identificámos ruídos diferentes, que em conversa com o gerente do lodge, nos disse ser possível ser de javali, ou dos hipopótamos que durante a noite saem dos lagos e vêm comer à floresta, e muitos pássaros, e outras coisas que nem quero saber de quem eram os tais sons!
O dia começava cedo e cedo acabava, o jantar era ás 19h e alvorada ás 6h com a luz do dia a marcar passo e quando abríamos a porta já alguém tinha deixado um jarro com leite e agua fervida com bolinhos torrados para acordar melhor, os índios monopolizaram logo esse avant-petit-dégener, a mim fez me lembrar algo que não tem nada a ver, que era o pão e as garrafas de leite que eram deixadas de madrugada na porta das casas no Portugal passado.

O receio que tínhamos de nos podermos chatear num sítio isolado presenteou-nos com diversas atividades ao ar livre, no meio da natureza selvagem, mesmo o que nós precisávamos.
No primeiro dia, fizemos um passeio de canoa num dos diversos lagos da reserva onde vivem os hipopótamos, mas só vimos pássaros e nenúfares. Um passeio a pé com direito a explicações de botânica pelo nosso guia local, na floresta de fetos e das palmeiras ráfia, que pelos vistos é uma espécie rara e protegida das zonas costeiras. Foi nos ensinada a sua semente e o seu ciclo de vida.  A casca mole do fruto serve de alimento aos pássaros que depois abandonam a semente e esta leva 5 anos a germinar, depois cresce e a partir do momento em que dá fruto começa o processo de degradação / morte da palmeira, mas que pode levar anos. Com direito a andar nas cavalitas do guia e de passar as margens de um dos lagos numa canoa rudimentar utilizada pelos locais.

 
 
 
 
 
No segundo dia o programa era ir de barco até ao lago principal ver os hipopótamos e fazer um picnic na zona dunar já na praia da costa do índico, mas choveu o dia todo e nós decidimos ir na mesma, o que tornou tudo ainda mais selvagem e misterioso, os índios portaram-se melhor do que nunca nada de choros de birras e debaixo do oleado que nos forneceram e que usamos os dia todo lá espreitavam atentos para não escapar nada, afinal ainda tínhamos de descobrir os tão famosos hipopótamos. Percorremos as 4 lagoas da reserva num barco tipo lancha mas chovia tanto que algumas partes do percurso mantínhamos-nos  escondidos debaixo do oleado, mesmo assim vimos os cercos feitos pelos pescadores locais para apanhar os peixes que vem desovar naquelas lagoas, e no fim quando já mentalizados que os hipopótamos iam ficar para uma outra viagem , lá estavam eles, a família completa no meio do lago a olhar para nós, tirámos uma foto bem tremida que nem dá para mostrar, mas ficou tudo retino na memória. O pic-nic acabou por ser feito numa palhota refúgio dos pescadores locais que nos cederam para o almoço, e porque não podíamos ficar sem ver as tais praias selvagens do índico onde desovam as tartarugas lá fomos nós sob uma chuva densa tropical pelo caminho fora até á praia, os nossos companheiros ingleses ainda deram um mergulho, mas o índio M decidiu adormecer no babysling na caminhada e ficamos apenas pelo desejo de ter tido um dia de sol e de que teríamos dado muitos mergulhos naquele mar turquesa e translúcido. As fotografias foram todas de telemóvel, pois com tanta chuva e humidade, e com os índios sempre debaixo da nossa asa, nem nos atrevemos a mais malabarismos com a máquina fotográfica.




 
No final estávamos encharcados até á alma, cansados e felizes e para rematar em perfeição enchemos a banheira do quintal com água quente (sim, havia agua quente do esquentador) e deliciámo-nos com a luz do fim de tarde e dos ruídos da floresta e um jantar gourmet.


Como se diz aqui pela banda, vidas mulatas!
NOTA: as fotografias são todas do telemóvel porque a internet não "me deixa" colocar as que gostaria mesmo de mostrar, para aqueles mais próximos haverão oportunidades para mostrar tudo em pleno.

quarta-feira, abril 22, 2015

Á luz da gambiarra

Ontem, quando saí do trabalho decidi ir espreitar uma loja de utilidades para a casa que existe perto de onde trabalho, e como às vezes uma pessoa precisa de “lavar as vistas”, lá fui eu.
Realmente tem muita variedade e a preços bastantes razoáveis, acabei por comprar dois tubarões de plástico para os índios, umas cruzetas, e umas gambiarras daquelas à moda antiga para utilizar fora e dentro de casa, nunca se sabe, pensei eu, pois apesar de sermos uns afortunados comparados com a maioria do povo, rara é a vez ficamos sem luz ou água, pois temos gerador e depósito de água próprio.
Quando chego a casa vejo uma escuridão e um silêncio pouco normal, abro a porta e qual é o meu espanto, ao ver o Pachá e os índios à luz da velinha, todos á mesa a tentarem pescar do prato o jantar dos índios.
Pois é! também a nós nos coube essa sorte!
Ironia das ironias, tinha duas gambiarras novinhas a estrear no saco, que afinal iriam servir para a verdadeira função de iluminar! 
E já sabem sem gerador, a bomba da água não funciona, por isso o banho foi de caneca! Graças à santa ama Ema, que carregou uns alguidares com água  à cabeça, elas fazem aquilo com uma destreza de meter inveja, se fosse eu tinha encharcado tudo e todos, conseguimos tomar um banhinho ecológico!
Foi mesmo romântico!


sexta-feira, abril 17, 2015

Já fomos e já voltámos da terra do Madiba

Não, não encontramos o Coelho da Páscoa na terra do Madiba, nem tão pouco as tais avestruzes, mas sim, muitos macaquinhos curiosos e ladrões das iguarias dos humanos, e penso que foram eles que deixaram aos índios, de baixo da almofada, no fim-de-semana da Páscoa, uns ovinhos de chocolate!

Chegar de férias com a sensação de baterias carregadas, coração e alma cheia, de imagens e momentos, é uma das melhores sensações que se pode ter e foi isso que aconteceu! E por isso sentimo-nos afortunados!
Todos adoraram, apesar de algum cansaço! Esta semana ao chegar a casa no fim do dia, o índio mais velho, veio ter comigo com um saco de pano do faísca mcqueen cheio de carrinhos e brinquedos e diz, já tenho a mala feita mamã, vai fazer a tua pois vamos viajar amanha! Pensava eu que eles estavam com saudades da rotina e do conforto da casa, e parece que já marcaram na agenda a nova viagem sem nós sabermos! Mas agora, há que trabalhar, brincar e estudar para merecer outras férias!! Mas porquê mamã? Aiaiai, cá estamos nós em plena idade dos porquês!

Prometo partilhar alguns sítios e momentos da viagem, para já, ficam as imagens da ansiedade e alegria, que tiveram, de entrarem no avião, do monumento memorial de Nelson Mandela e de uma das imagens que vimos no museu, que demonstram bem o porquê deste Sr. ser quem é.

 



quinta-feira, abril 02, 2015

A caça aos ovos da Páscoa

Esta Páscoa decidimos ir até Africa do Sul procurar os ovinhos do coelho da Páscoa, desconfio que vamos encontrar mais ovos de avestruz do que outra coisa, mas depois prometo contar tudo.

E agora se não se importam, vamos até ali ao lado e já voltamos.
Feliz Páscoa!


andam por aí muitas mãos-de-fada

Claro que tenho de partilhar a mensagem que uma amiga especial me enviou, como resposta a um dos post da rubrica, "andam por aí muitas mãos-de-fada".

 "Bem, apesar de eu ter tido têxteis no liceu nunca me deu para experimentar este tipo de manualidades... as minhas mãos de fada ficam mesmo para os abraços"

... e ela tem razão, existem mãos, que mesmo não sabendo fazer bricolages ou outras artes, são especialistas na arte de abraçar. E esta amiga é mestre nessa área. Obrigada por todos os abraços até então e pelos que ainda hão de vir.

 

quarta-feira, abril 01, 2015

Vamos ao teatro Elinga – Peça infantil, “O Fantasminha Pluft”

Num sábado chuvoso, o que é que se faz aqui pela banda? Nada, ou quase nada, as opções são poucas, entre ficar em casa e aguentar a gritaria dos índios, ou ir ver um filme ao único centro comercial da cidade, a escolha é difícil, o melhor mesmo é desistir dos dois planos e ir almoçar fora.

Assim foi, e por coincidência encontramos no tal restaurante um casal amigo, que tem uma pequena índia com a idade dos nossos índios, que nos perguntaram, também vão ao teatro ver a peça infantil? Qual teatro? Qual peça infantil?
Ora cá está o plano C que virou plano AAAAA! Toca a despachar o almoço que se faz tarde para irmos ao teatro.

A peça começava as 16:30h mas nós chegámos às 16h, fomos os primeiros. À entrada existia um balde para cada um colocar uma quantia que achasse justa como preço de entrada.
Os índios mal subiram as escadas vermelhas e entraram na sala de convívio, sentiram-se em casa, todas aquelas cores e pinturas nas paredes e no chão hipnotizaram-nos.
De seguida receberam-nos com um sumo de palhinha, um balão, rebuçados à disposição, numa tijela gigante, e pinturas faciais para quem quisesse pagar 200 kwanzas.
As pessoas começaram a chegar devagarinho, a sala foi animando, até que a peça ia começar. Passamos para o anfiteatro, e a magia aconteceu!







A peça chamava-se “O fantasminha Pluft”, um fantasma que vivia com a sua mãe e o tio Gerúndio que hibernava num baú e que só aparecia para comer pastéis. O fantasma tinha muito medo das pessoas e a mãe para que ele perdesse o medo mandou-o à terra. Quando chegou á terra conheceu uma menina, que era neta do famoso capitão Bonança e tinha sido raptada pelo seu rival pirata Perna de Pau, tudo por causa de um tesouro.
Os primos, piratinhas, da menina partem à sua procura e acabam por encontrar  os fantasmas, descobrindo que todos têm medo uns dos outros.
Por fim soltam a menina, descobrem o tesouro e ficam todos amigos, excepto o pirata perna de pau que perdeu a refém, o tesouro e desmaia com medo do temível fantasma Gerúndio que finalmente acordou de dentro do seu baú.

Todos os índios da plateia riram, interagiram com os atores, e os pais riram e sorriram até caírem as lágrimas.
No final, todos os índios foram convidados a subir e partilhar o palco com os personagens onde tiraram fotografias e ensinaram uns passinhos e a canção dos piratas.




 

Conclusão. Actores excelentes, peça bem escolhida, ambiente e  acolhimento fantástico! Crianças felizes, pais felizes, organização feliz! É caso para dizer, onde é que estiveram este tempo todo?  Não há divulgação? não há interesse de chamar a comunidade a assistir a peças como esta?
Tive de ir averiguar e fui falar com os actores. Primeiro felicitei-os e depois à conversa descobri que realmente não divulgaram muito a peça mas que já era a terceira vez que iam a cena, e que como o teatro Elinga vai fechar definitivamente, eles vão virar-se para as escolas e colégios, no sentido de continuarem o projeto deles.
A seguir, fomos para casa? ALTO! Não, não! A festa continuou, de volta à sala do chão vermelho!
 
Mais um sumo de palhinha para os índios e para os papás umas cervejinhas. Alguém subiu a um andaime e continua uma pintura inacabada numa parede, uma musiquinha a acompanhar. Alguém pede para arredar os sofás, feitos de paletes e esponja, e um duo de jovens faz uma performance de hip-hop,  os índios assistem e são convidados a aprender uns passinhos, claro que as meninas aderiram e os rapazes, esses, andavam esbaforidos a correr e a jogar ás escondidas pelas  vária salas, de exposição, que fazem parte deste edifício.
Saímos, já estava noite escura, 19:30h, e alguém mais tarde perguntou, viram a tempestade desta tarde? Qual tempestade? Foi uma tarde tão agradável!


Enquadramento: O teatro Elinga, é a única instituição, se assim se pode chamar, cultural urbana, que alberga as componentes de teatro, dança, artes plásticas (fotografia, pintura, escultura, musica, e outras (desculpem se falha alguma)), que funciona como espaço aberto a toda a comunidade através do teatro, das aulas, exposições, espaço noturno de divulgação de referências musicais temáticas, que recebe DJs com nome na praça! Mora na baixa de Luanda, num edifício, que penso ser quase ou já centenário, com interesse arquitetónico discutível, mas em grande estado de degradação, e que tem sobrevivido ao avançar dos tempos e dos gigantes económicos da urbanização. Por diversas vezes, anos, houve o rumor que iria fechar portas, mas parece que desta vez é que vai ser, no seu lugar, dentro de 2 ou 3 anos, dizem, estará um edifício silo de estacionamento, com um teatro no ultimo piso!!!! Será?? Vamos esperar e ver! A verdade é que aquele edifício, ao estilo “ocupa” tem uma mística que dificilmente o tal “roof top” possa ter!