sexta-feira, novembro 27, 2009

caminho



      
 
Para onde me levam meus pés?
... por onde vagueiam os pensamentos!
Para onde seguem esses caminhos?
... por onde começa a liberdade!
Para onde nos leva essa linha escrita no asfalto?
... por poemas intermináveis!
Para onde focar o olhar?
... por cima da nossa vontade!

 
... para onde me levam estes pés!


sexta-feira, outubro 30, 2009

segunda-feira, julho 13, 2009

" ká tem "

Ter ou não ter?...eis a questão!...



Aqui, "ka tem" luz...
"Ka tem" pão todos os dias...
"Ka tem" frutas...
"Ka tem" água na torneira...
"Ka tem" papel higiénico...
"Ka tem" transportes...
"Ka tem" forma de levantar dinheiro...
"Ka tem" horários marcados...
"Ka tem" promessas cumpridas...
"Ka tem" médico...
"Ka tem" medicamentos...
"Ka tem" stress...
"Ka tem" frio...
"Ka tem" Pai Natal...
"Ka tem" telefone...
a mi "Ka tem" nunca bateria...
...mas "Ka tem" problema!
Quem assim pensa aqui "cá tem" paciência para ultrapassar tudo isto!
E nós, na verdade precisamos disto para viver???


PS: ... foi a Cris Mana quem escreveu, quem sentiu, quem viveu tudo isto... na Guiné - Cacheu, bem podia ter sido aqui em Angola profunda, ou em qualquer outra parte... fica apenas a essência de que "ka tem coisas" mas... tem muita alma e amor!! as imagens são também dela!
Para ti e para os que acreditam em pequenas coisas, um abraço do tamanho de África!
(ká tem = não há)

quinta-feira, julho 02, 2009

Imbondeiro



em cada embondeiro uma alma!
com seu jeito e forma de estar!
solitário,
em grupo,
em reunião,
em união!
não importa!
parecem sempre, estar em uníssono com a natureza!
bailando ao vento os seu ramos, os seus frutos como quem tenta hipnotizar o céu!
lançando á terra sementes e amor!
dando sombra aos que passam ou nele habitam!
há em cada um, algo místico e sincero que nos faz prender o olhar!
o verde faz sorrir
querer eternizar a imagem
...gosto apenas de ficar a olhar!

quarta-feira, junho 17, 2009

muxima!!





Vai..

Vai só lá!

Onde o rio desposa a terra com todos os seus braços…

Onde a luz trespassa o olhar irradiando o dia!

Onde o silêncio sussurra aos ouvidos… muxima mámué!

Descalça-te…sente a ligação á terra num respirar profundo.

Absorve todo o poder da magia do santuário natural!

Da vibração gratuita de amor!

E no final… deixa-te ir embora com um sorriso nos lábios

E no pensamento uma paz interminável.

Muxima mámué!











 

sexta-feira, maio 08, 2009

O rochedo, a Lua e o Mar



Era uma vez,
Não,
Eram muitas vezes, as vezes todas que quiser,

Um planalto.

O que é um planalto?
Ora, é um alto ao comprimido e plaaaaaaaaano!

Nesse planalto existia um rochedo gigante que quase tocava a lua,
A trovoada era a sua namorada, moça rebelde com temperamento fugaz e brusco,
Um dia a trovoada decidiu beijar o rochedo e com tal delicadeza o fez que o fendilhou de alto a baixo, formando assim uma gruta secreta no seu interior.
Nunca mais o rochedo quis saber da trovoada e para colmatar tamanho buraco que ela lhe deixou no seu delicado interior, decidiu albergar todos os que por ali passavam para fugir dela.

Grande mágoa do rochedo que sempre tinha de a ver por ali a rodopiar assustando todos e tudo com grandes ecos e clarões! Que miúda difícil essa!

E ele não podia sair dali, não podia fugir, só tinha de olvidar-se da sua existência virando-se para dentro da sua gruta e conversando com os seus amigos.

A lua era sua amiga, amiga de uma vida, sempre aparecia para conversar com ele, contavam todos os segredos secretos um ao outro.

Um dia o rochedo perguntou á lua,

Ó LU, tu daí do alto que vês? Eu com medo da trovoada voltei-me para o meu interior e esqueci-me já de como é o “alto ao comprido e plano”, que nos rodeia, da vastidão, da beleza infinita!
Só me resta falar com os meus amigos morcegos e ratinhos e aquela paca que ás vezes por aí aparece, gostava de saber como é aí em cima!

Pois, ámigo daqui vejo tudo, e mais… tudo, e tudo de tudo. Consegues imaginar? Dou a volta ao planalto e chego até espelho de água gigante, o mar! já ouviste falar?

Envergonhado o rochedo nem respondeu, pois na verdade nunca tinha saído dali, nem conseguia imaginar tal espelho ou que coisa é essa do mar!!

Ó LU, mas é longe esse mar? Não o podes cá chamar só para o conhecer e conversar com alguém de longe?

O Mar, o mar!!! o meu márito!! Sabes…. Respondeu ela corando!
Eu gosto dele!! … assim sabes?
Por isso ás vezes não volto, fico por lá a conversar, a contar os barcos, a ver os peixes, tudo coisas que não conheces, um dia explico-te!

No meio daquela converseta toda, desabafos e confidências ouviu-se ao longe… bem longe uma voz rouca baixinho baixinho… Lu anda! LU anda! LU Anda!
LUUUUUUUANDA!

E a lua virou-se para o rochedo o beijou-o na testa e calmamente seguiu caminho para ir ver o seu marito amado, lá para o lados depois do plano que ficava no alto comprido!

...e a lua sempre voltava para conversar com seu amigo de verdade...


(PS:dedico esta estória a todos os meus amigos de verdade, aqueles que estáo lá longe no plano comprido e alto (portugal e afins) e aos que estão junto ao mar e Luanda! )

quinta-feira, abril 23, 2009

As viagens...

A estrada a percorrer levará o tempo necessário para absorver tudo o que a retina puder. Aos poucos a cidade fica para traz, assim como o pó, o lixo, os carros desalinhados e insurretos, as pessoas deambulantes na teia urbana, hostis na sua forma de sobreviver.

Para traz ficam também as memórias recentes, da rotina, do caos, da confusão que pensamos que não afeta a nossa vida mas….

E de repente …o SILÊNCIO!
De repente… o VERDE!

Lentamente a organização de tudo o que nos rodeia, as ruas serpenteiam a paisagem num tango perfeito com a natureza envolvente.

As aldeias surgem no verde, pintalgadas em tons ocre dos telhados de palha e paredes de barro,

O horizonte infinito rasgado por vegetação longínqua, de capim , embondeiros, catos árvore e olhares camuflados de animais selvagens que espreitam com reserva a passagem do homem nos seus “barulhentos cascos velozes”.

Xxssshhhhhhhh,

… a melodia de um pássaro! Outro, outro, tantos, tantos,

“Atenção Sr.ª e Sr., a Orquestra sinfónica amadora da selva do interior de Angola!
É favor fazer silêncio no auditório, desligar telemóveis vai começar o espetáculo!

De repente fecho os olhos e ouço, aqui, ali, ao longe, aqui mais ao pé, um canto, outro canto, e…
Abro os olhos …. verde, explosão de verdes, de sons!! Que extenuante espetáculo da natureza!!!”

Segue o caminho,

Alguém diz adeus!!! Alguém simplesmente te acena e sorri!
E há o retorno, um sorriso de volta, uma bolacha, um “retrato” meio envergonhado!
E a ingenuidade de rever na objetiva, o que “sou eu mesmo”!!! Sou eu!

Basta-lhes ver, não é preciso mais nada,
em troca um novo aceno um novo sorriso de despedida!

No caminho vão surgindo olhares,
sorrisos de contentamento, outros de vergonha, humildade, naturais,
GENUÍNOS!

Voltamos ao verde! Á banda sonora, ao asfalto que dança com a natureza, ás aldeias que compõem o cenário e abraçam e acolhem todos os sorrisos todos os olhares, toda a alma de Angola!

Agora só há uma coisa a fazer,
Sentar nos “barulhentos cascos velozes” abrir a janela e os olhos e apreciar o espetáculo em todo o seu esplendor até ao fim!








sexta-feira, abril 03, 2009

Chuva!

Chove há três dias!
De vez em quando é certo. O suficiente para mudar tudo o que nos rodeia.
A chuva transporta consigo massas de terra, lixo escondido, casas, caminhos, tudo o que á sua frente encontra.
A lama toma o lugar do habitual pó e terra. As ruas ficam alagadas até não ter fim.
As pessoas passam ainda em maior quantidade pois os carros não circulam por muitos locais….

Escrevo no trânsito! Enquanto aos soluços vou avançando no sentido da cidade. Ás vezes não há quase paciência, ás vezes a paciência cabe em nós!
De repente o super-homem é mulato!... um bebé sai de dentro de um “cubíco” (pequena casa de 4 paredes) a chorar atrás da mãe que monta a sua banca de venda de gasosas e Motorola (sandes feita com pão e asa ou coxa de frango onde o osso fica de fora, como se fosse a antena de um telemóvel), o pequenino trás uma camisola do super homem, mal sabe ele que todos os super poderes lhe dariam jeito na sua sobrevivência diária.

Agora … são já cinco filas de carros no sentido da cidade e mais três no sentido contrário num local onde supostamente teria uma faixa para cada lado. Envolta de tantos “hyaces” azuis, nervosos de chegar rápido ao destino, hoje decidi não resistir e não fazer frente ás emboscadas e esquivas constantes do seu estilo de conduzir. Deixo-me estar aqui a observar e a fluir normalmente nesse escoamento urbano! Escoamento?? Parada há 20minutos no mesmo sítio! Qualquer caracol é campeão olímpico de corrida de fundo, nestas paragens!

Agora… são pessoas misturadas com carros, carros misturados com pessoas. Cansados de esperar dentro dos “hyaces” (táxis) e porque o tempo não pára e o patrão não perdoa, deixam os carros para trás e seguem caminho a pé, perfurando por entre as réstias existentes entre carro. Hyaces, camiões, carros, motas, motoretas, homens, mulheres, carrinhas, alguidares, colorido por todo o lado, mais gente… andei mais meio metro!!

No soluço de 10 palavras começaram as filas a andar…tenho de iiiiiiiir!!


quarta-feira, abril 01, 2009

Reutilizar



Vamos lá reutilizar as latas!

é simples, basta forrar com tecidos que nos tragam á memória algo de bom,

...um tecido de um vestido da nossa infância,

...um pano que compramos algures por aí,

mais uns adereços a gosto e...

Há olhares que simplesmente falam por si!


 "meninas samurai - Uíge"
 
 "mãezinha do Uíge"
  
"menina que vende esteiras-Sumbe"

 
Palavras?

que são palavras, quando a alma está a descoberto?

esse teu olhar de improviso, com medo de resgate...
esse teu pousar ingénuo, de vergonha natural...
esse teu sorrir, deslumbrado com o reflexo do espelho...

e as palavras desvanecem-se em imagens,
em memórias que guardamos em pequenos olhares!





segunda-feira, março 02, 2009