quarta-feira, janeiro 28, 2009

Mercado do kicolo

Kicolo. É um dos maiores mercados de Luanda.

O caminho para lá chegar segue o Norte.

De repente há uma estrada com armazéns de um lado e do outro e não há nada que enganar, nas suas paredes estão pintados em pormenor os produtos á venda, como se as pinturas fossem as montras, uma verdadeira galeria de arte naïf, ou diria antes, grafites urbanos africanos, com muita utilidade de orientação visual. Encontra-se de tudo, na maioria geradores, grandes pequenos, médios, ventoinhas, ar condicionado, máquinas de lavar roupa, materiais de construção, motores, motoretas, bicicletas, trotinetas, camas, sofás, mesas, cadeiras… e mais geradores e mais motoretas! Em caso de dúvida há sempre modelos expostos cá fora, para o cliente analisar e depois negociar.
Há um burburinho de pessoas por todo o lado, e candongueiros colorindo de azul o horizonte castanho do pó! Aquela fila azul, vai na direção do Kicolo, é o percurso de vida de muitos, dos que lá trabalham todos os dias e que talvez pouco mais conhecem…

O pó transporta-nos até ao início do mercado a céu aberto.

É grande, muito! Lá há barracas de madeira, com uma banca e um telhado, e em cada barraca um vendedor e cada vendedor um tipo de produto e cada produto é encontrado num determinado sítio do recinto. Tudo está dividido, por ruas, por tipo de produto, por mais ou menos acessível. Lá há de tudo! E trabalha-se, produz-se, com um ritmo não visto em outro local de Angola! Ali fora do olhar dos de “fora” entende-se que aqui o povo trabalha, sim! Azáfama de pessoas a transportar produtos, a procurar a tenda certa, a simplesmente ver, a fazer esquemas, a inventar o dia!

Vi as barracas de pregos, parafusos, alicates, loquetes, facas e navalhas e ferragens. As barracas de lâmpadas, fios elétricos, tomadas, e interruptores. Vi esquemas a meio do percurso. A mãe Amina que vende e compra dólares por kwanzas transportando em sua mão um maço inteiro de dólares como se fossem apenas cromos. Tanta segurança! Sim é mais um esquema! Eles sabem como se movimentarem! Nós não! Vi as barracas das mães que vendem panos, coloridos, grandes, pequenos, vendidos ao “pano”. Servem para tudo, vestir, enrolar e meter á cabeça para suporte dos alguidares, transportar os bebés nas costas, enrolado á cinta e num nó guardar o dinheiro discretamente, filtrar a água, tapar o que seja, colorir o dia-a-dia. Quero todos! Todos os padrões, todas as cores! Mesmo ao lado a secção dos costureiros! Homens, sentados no chão com a máquina de costura á frente, dando á manivela com tal devoção que parece que estão a dar um recital em que as notas são o “traquejar” da máquina. Seguem-se as barracas das fatiotas, saias, camisas, vestidos, topes, tudo nos panos batique! Expostos como um mosaico multicor!

Não passei em todas as zonas do mercado, mas vi como funciona, como transpira de vida, de labuta urbana. Um outro dia hei de lá voltar para sentir mais, ver mais, sorrir mais.
Esqueci dizer que foi o Paulo, um moço daquelas lides que me guiou pelo mercado até encontrar a zona dos panos, não é espaço para qualquer um, esse mercado, gostaria eu de ser angolana para poder circular livremente de forma despercebida e sem ser especulada nos preços!

Deste lugar não há fotos, há apenas os tecidos que de lá trouxe e que ofereci e utilizo nos bricolages.

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