quarta-feira, janeiro 27, 2016

E se fossemos dar uma voltinha? Destino, Conda, Tocota, Fazenda rio Uiri, Seles

Fim-de-semana prolongado de três dias, é o mesmo que dizer, sair de Luanda já e obrigatoriamente.

De novo com sede de verde e de ar puro, decidimos ir para a província do Kwanza Sul interior, mais concretamente Conda, Tocota, Seles, caracterizada por um clima tropical de chuva e humidade e por conseguinte, muito densa de vegetação, prospera para a agricultura. Região de cultivo de café e algodão, batata-doce, mandioca, banana e ananás e onde nascem abundantemente na floresta cogumelos selvagens a apetecer comprar e cozinhar. Parámos na estrada junto às crianças que os mostram, para vender aos automobilistas que passam, perguntamos como se cozinhavam, “mete ná água, láva, mete outra vez ná agua, láva, mete ólio e tomaté ná panela e os cogumelos e já está.” Pareceu-me bem! Mas tomate com cogumelos? Hummm, vou experimentar qualquer dia esta variante tropical!

Saímos de Luanda em direcção a Porto Amboim onde de repente nos vimos envoltos no cortejo Comício do MPLA, muitos carros, muita música muitas bandeiras, senhoras vestidas a rigor, com o lenço amarelo canário à cabeça, e as pessoas à beira da estrada a dançar ou simplesmente a olhar, alguns a acenar  bandeiras da oposição, os índios perguntavam o que era aquilo  e quem era a fotografia daquele senhor, que estava colado em todas as viaturas e motas! Nem sei o que respondemos, algo como, é o senhor que governa o país e está a dar a conhecer-se às pessoas, chama-se Presidente da República, a nossa sorte é que rapidamente se focaram nos barcos no mar e nas cabrinhas á beira da estrada.
Seguindo para sul e depois para o interior, é paragem obrigatória, para o retrato turístico, as quedas de água da Binga, (já fomos um , já fomos dois, agora somos quatro…), um verdadeiro oásis,  índios descalços a correr, chapinhar e escalar as rochas junto á cascata. À chegada é preciso escrever no livro de visitantes e pagar 100Kz adultos e 50Kz crianças, e existe um pequeno parque de merendas que foi reabilitado recentemente, a ver pela cor das pinturas. Logo ali conhecemos a avó Maria, que faz a manutenção do espaço, à qual fizemos perguntas, há jacaré aqui? Sim mãe ! e cobras venenosas? Sim mãe, e a água do rio sobem muito? Sim mãe! Ah muito bem!  e eu,  que já ali acampei há uns anos atras, debaixo daquela arvore à beiro do rio! Melhor não perguntar mais nada, Uíí!  Aquela senhora já ficou marcada no imaginário infantil dos índios, pois no outro dia alguém me perguntou, a avó Maria é quem faz as bolachas maria, mamã? Hein?? Sim, ela sabe fazer bolachas maria!!










De volta ao carro seguimos viagem, penetrando cada vez mais numa explosão de verde e vegetação, pintalgada de quando, em quando, por aldeias intactas de casinhas de barro ocre e laranja e telhados de colmo, e já algum zinco, adultos e crianças carregados de lenha à cabeça a caminhar nas bermas da estrada e muita crianças umas com alguidares com cogumelos e colares de caracóis sem casca, para vender, outras com bicicletas de madeira e pneus vazios a brincar, e todas, todas, acenar com um sorriso na cara! Ádeus ámigo! Adeus, dizem os índios que pediam para abrir a janela para responder aos meninos, e assim foi.

Os rios iam aparecendo, assim como as pontes e as curvas, a seguir umas às outras, a lembrar uma mini Serra da Leba, contaram-se 290 e tal! Palmeiras, bananeiras, campos de mandioca e o café, até aparecerem as montanhas de rocha, a lembrar que talvez em tempos remotos, morasse por ali um gigante que chateado com a vida deu um pontapé num monte de pedras e as espalhou aleatoriamente formando aquela paisagem que agora nos deleitava, obrigada senhor gigante pela sua fúria.






Chegados à fazenda do Rio Uiri, sentimos logo que estávamos em casa, ambiente acolhedor, ar do campo, simples, animais da quinta, flores e rosas de porcelana por todo o lado, antigos armazéns de preparação da tapioca e café albergam a zona das refeições, uma varanda sobre a floresta tropical convida a relaxar, e o cheiro de terra molhada depois de uma chuvada no início da tarde. Índios á solta, felizes a correr e explorar os espaços circundantes sem fronteiras. Que barulho é este? e, o que é aquilo?





À noite toca a sineta para o início das refeições e a sala enche-se de hospedes que se misturam nas mesas distribuídas pelo salão, a criançada que era muita andava á solta dividida entre os chamamentos dos pais para se sentarem à mesa e a sala ao lado com matraquilhos, ping-pong e snooker. O serão continua ao ar livre na clareira da fogueira que convida a sentar ao seu redor nos banquinhos improvisados feitos de troncos de árvore. Alguém toca guitarra e cantam-se fados e outros tons, e a Dona Odete e o Sr. Mário, oferecem uns miminhos para afinar as vozes, licores caseiros de aguardente de frutos da fazenda, gengibre, ananás, maracujá, e a acompanhar, filhoses! Pois é, até parecia o natal, tropical!

Amanhece cedo com a claridade e com a passarada a cantar, para despertar que tal uma caminhada de 2 horas pelos arredores, para conhecer a fazenda, os campos, as pedras gigantes, a floresta? Vamos a isso, que se faz tarde, lenço a tiracolo com o índio ao colo, que o índio grande já vai a caminhar! Repor de novo os níveis de clorofila da mente! O grupo era misto, entre franceses e argentinos e a nossa família de índios, o guia, um dos trabalhadores da fazenda, com muita paciência la ia abrindo caminho com a catana na mão, não fosse também aparecer uma cobrita daquelas venenosas tão comuns por aquelas bandas, existem pelo menos 5 espécies diferentes, e explicava o nome das árvores, e plantas, o nome dos cogumelos, das pedras gigantes e das aldeias que se avistavam, aprendi com ele que os “brancos não tem gigongos, gêmeos, agora nós sim temos, Eu cá tive 6 filhos, 3 pares de gingongos, a minha mulher era assim forte e se não desse gingongos até era pena” Cá está, é o que se diz, rentabilizar a mulher.

A verdade é que nesta terra não são só as mulheres que são férteis, também a terra o é, a ver pelo tamanho dos maracujás, e das flores...

O passeio deu frutos educacionais, já sabemos como nasce a tapioca, que é um tubérculo, logo cresce debaixo da terra, quais são as folhas da quissaka, como é o pé do café, que os ananases crescem no chão e as papais no ar, e muito importante, ver ao vivo a cabrinha a balir, méééééé´, méééééé´, em competição e a responder ao riso do Índio pequeno, que ao perceber que é aquele animal que faz aquele ruído não se conseguiu conter em risadas contagiantes.

O nosso guia disse, esse candengue vai marcar no seu pensamento esta caminhada para contar depois aos seus filhos! E eu pensei, e eu vou relembrar-lhe sempre que possa para não ficar perdido nos seus pensamentos.








Depois do almoço chove, e o cheiro a terra molhada volta, e em modo de passeio e descanso das pernas, visitamos de carro a vila a seguir, Seles.  O caminho é lindo, as aldeias surgem ao longo da estrada que serpenteia a paisagem tropical, de novo crianças, e pessoas na estrada e como é domingo à tarde, há jogo de futebol nos campos improvisados de cada aldeia, que tem como pano de fundo uma paisagem idílica de floresta e montanhas e terra vermelha a contrastar! Seles, parece estar esquecida no tempo, jardim central, com alamedas laterais largas com dois sentidos cada, e os edifícios públicos consideravelmente estimados ainda de pé, podem se ver alguns edifícios com marcas, balas e bombardeios, do passado pré-paz, e não deu para mais passeios que se fazia tarde e escuro, e a sineta para jantar já entoava na nossa mente esfomeada.





Mais uma noite, mais uma manha, um pequeno-almoço demorado, mais uma voltinha á fazenda um adeus aos animais e plantas, um mergulho na piscina, malas na mala e índios sentados, uma fotografia de grupo em modo de despedida, próximo destino, Termas da Tocota.








Tocota, trata-se de umas termas de águas quentes sulfurosas? que brotam da montanha que através de um tanque que foi ali construído convidam a banhos os visitantes e principalmente os habitantes da região. Para nós fica para uma outra ocasião, em época de cacimbo e á noite, saberá melhor, que nós gostamos da nossa privacidade… 

No caminho ainda dá tempo para uma paragem técnica para comprar os Quitutes da terra, Produtos da terra, banana, ananas, batata-doce, beringela, pimento, cebola, cahombos piripiri, cebola, quiabos e milho assado para o caminho, pois a caminhada será grande.

Mais uma vez chegamos a casa cansados, mas com as baterias carregadas de boas memórias.

E mais fins-de-semana grandes não há?





2 comentários:

mae de duas disse...

Obrigada pelas descrições e pela viagem.
Senti-me um bocadinho lá...

Sobre os cogumelos com tomate, resulta mesmo mt bem. Ainda hj o vou fazer para o jantar.
Refugado de alho, uns 4 tomates bem madurinhos e qdo o molho de tomate estiver pronto, juntam-se os cogumelos naturais, de preferência dos grandes.

Beijinho, bons passeios e boas comidas

catarina disse...

Obrigada amiga também fiquei curiosa tenho um projecto em mãos com cogumelos depois vou partilhar! Bj