quarta-feira, abril 01, 2015

Vamos ao teatro Elinga – Peça infantil, “O Fantasminha Pluft”

Num sábado chuvoso, o que é que se faz aqui pela banda? Nada, ou quase nada, as opções são poucas, entre ficar em casa e aguentar a gritaria dos índios, ou ir ver um filme ao único centro comercial da cidade, a escolha é difícil, o melhor mesmo é desistir dos dois planos e ir almoçar fora.

Assim foi, e por coincidência encontramos no tal restaurante um casal amigo, que tem uma pequena índia com a idade dos nossos índios, que nos perguntaram, também vão ao teatro ver a peça infantil? Qual teatro? Qual peça infantil?
Ora cá está o plano C que virou plano AAAAA! Toca a despachar o almoço que se faz tarde para irmos ao teatro.

A peça começava as 16:30h mas nós chegámos às 16h, fomos os primeiros. À entrada existia um balde para cada um colocar uma quantia que achasse justa como preço de entrada.
Os índios mal subiram as escadas vermelhas e entraram na sala de convívio, sentiram-se em casa, todas aquelas cores e pinturas nas paredes e no chão hipnotizaram-nos.
De seguida receberam-nos com um sumo de palhinha, um balão, rebuçados à disposição, numa tijela gigante, e pinturas faciais para quem quisesse pagar 200 kwanzas.
As pessoas começaram a chegar devagarinho, a sala foi animando, até que a peça ia começar. Passamos para o anfiteatro, e a magia aconteceu!







A peça chamava-se “O fantasminha Pluft”, um fantasma que vivia com a sua mãe e o tio Gerúndio que hibernava num baú e que só aparecia para comer pastéis. O fantasma tinha muito medo das pessoas e a mãe para que ele perdesse o medo mandou-o à terra. Quando chegou á terra conheceu uma menina, que era neta do famoso capitão Bonança e tinha sido raptada pelo seu rival pirata Perna de Pau, tudo por causa de um tesouro.
Os primos, piratinhas, da menina partem à sua procura e acabam por encontrar  os fantasmas, descobrindo que todos têm medo uns dos outros.
Por fim soltam a menina, descobrem o tesouro e ficam todos amigos, excepto o pirata perna de pau que perdeu a refém, o tesouro e desmaia com medo do temível fantasma Gerúndio que finalmente acordou de dentro do seu baú.

Todos os índios da plateia riram, interagiram com os atores, e os pais riram e sorriram até caírem as lágrimas.
No final, todos os índios foram convidados a subir e partilhar o palco com os personagens onde tiraram fotografias e ensinaram uns passinhos e a canção dos piratas.




 

Conclusão. Actores excelentes, peça bem escolhida, ambiente e  acolhimento fantástico! Crianças felizes, pais felizes, organização feliz! É caso para dizer, onde é que estiveram este tempo todo?  Não há divulgação? não há interesse de chamar a comunidade a assistir a peças como esta?
Tive de ir averiguar e fui falar com os actores. Primeiro felicitei-os e depois à conversa descobri que realmente não divulgaram muito a peça mas que já era a terceira vez que iam a cena, e que como o teatro Elinga vai fechar definitivamente, eles vão virar-se para as escolas e colégios, no sentido de continuarem o projeto deles.
A seguir, fomos para casa? ALTO! Não, não! A festa continuou, de volta à sala do chão vermelho!
 
Mais um sumo de palhinha para os índios e para os papás umas cervejinhas. Alguém subiu a um andaime e continua uma pintura inacabada numa parede, uma musiquinha a acompanhar. Alguém pede para arredar os sofás, feitos de paletes e esponja, e um duo de jovens faz uma performance de hip-hop,  os índios assistem e são convidados a aprender uns passinhos, claro que as meninas aderiram e os rapazes, esses, andavam esbaforidos a correr e a jogar ás escondidas pelas  vária salas, de exposição, que fazem parte deste edifício.
Saímos, já estava noite escura, 19:30h, e alguém mais tarde perguntou, viram a tempestade desta tarde? Qual tempestade? Foi uma tarde tão agradável!


Enquadramento: O teatro Elinga, é a única instituição, se assim se pode chamar, cultural urbana, que alberga as componentes de teatro, dança, artes plásticas (fotografia, pintura, escultura, musica, e outras (desculpem se falha alguma)), que funciona como espaço aberto a toda a comunidade através do teatro, das aulas, exposições, espaço noturno de divulgação de referências musicais temáticas, que recebe DJs com nome na praça! Mora na baixa de Luanda, num edifício, que penso ser quase ou já centenário, com interesse arquitetónico discutível, mas em grande estado de degradação, e que tem sobrevivido ao avançar dos tempos e dos gigantes económicos da urbanização. Por diversas vezes, anos, houve o rumor que iria fechar portas, mas parece que desta vez é que vai ser, no seu lugar, dentro de 2 ou 3 anos, dizem, estará um edifício silo de estacionamento, com um teatro no ultimo piso!!!! Será?? Vamos esperar e ver! A verdade é que aquele edifício, ao estilo “ocupa” tem uma mística que dificilmente o tal “roof top” possa ter!

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